segunda-feira, outubro 24, 2005

para elsinore


1

Cheirava a mar em Elsinore
Um leve cheiro a mar misturado
Com o aroma primaveril de ervas e arvoredo

O castelo fora por vezes reconstruído
E uma vez purificado pelo fogo
Tudo fora lavado e pintado
Passado a limpo e exorcizado

No entanto
Numa das salas do castelo
Um quadro do século dezoito mostrava
Uma rainha bela imperiosa arrogante
E no seu rosto a sombra de outro se espelhava
E também as muralhas vermelhas de tijolo
sobre as águas obscuras do fosso projectavam
Uma sombra muito antiga e cor de sangue

2
Cá fora o mar era de um azul claríssimo
Crianças brincavam na relva à luz do sol
E famílias felizes de perto as olhavam
Porém a guia disse que o passado mora do outro lado do castelo
E que o pano só sobe depois do sol descer
E que as palavras só se cruzam como facas
Quando soa a hora em que se embruxa a noite

Eu entre barco e avião cheguei desencontrada
Nada vi da profunda e visionária noite

(sophia de mello breyner)

sábado, outubro 15, 2005

a condição humana


saraband, ingmar bergman, 2004

sob a luz de bergman tudo se depura e ficamo-nos a olhar fascinados e comovidos