quarta-feira, dezembro 29, 2004
a reconstrução dos dias
sally mann / da série cibachromes / 1981.83
não falo do princípio nem do fim
sigo apenas atenta à invisibilidade das coisas
embora por vezes tropece em dias cheios de destroços
mas vou limpando esses territórios de devastação
organizando a planta da minha casa,
esta é a minha sala, este é o meu quarto,
este é o estreito corredor onde abro a porta e saio para o mundo.
terça-feira, dezembro 28, 2004
( )
quinta-feira, dezembro 23, 2004
terça-feira, dezembro 21, 2004
pelos olhos passeiam imagens (# 03)
(sally mann / da série family color / 1990.91)
childhood house (an excerpt)
...somehow i had assumed
that the past stood still, in perfected effigies of itself,
and that what we had possessed remained our possession
forever, and that at the least the past, our past, our childhood,
waited, always available, at the touch of a nerve,
did not deteriorate like the untended house of an
aging mother, but stood in pristine perfection, as in
our remembrance. I see that isn't so, that
memory decays like the rest, is unstable in its essence,
flits, occludes, is variable, sidesteps, bleeds away, eludes
all recovery; worse, is not what it seemed once, alters
unfairly, is not the intact garden we remember but,
instead, speeds away from us backward terrifically
until when we pause to touch that sun-remembered
wall the stones are friable, crack and sift down,
and we could cry at the fierceness of that velocity
if our astonished eyes had time.
eric ormsby
domingo, dezembro 19, 2004
quinta-feira, dezembro 16, 2004
os dias absurdos
o artista deve pôr em ordem a sua vida.
Os meus actos diários têm este rigoroso horário:
Levantar: às 7.18 h; inspirado: das 10.23 h às 11.47 h. Começo a almoçar às 12.11 h e saio da mesa às 12.14 h.
Saudável passeio a cavalo no fundo do meu parque: das 13.19 h às 14.53 h. Outra inspiração das 15.12 h às 16.07h.
Ocupações várias (esgrima, reflexões, imobilidade, visitas, contemplação, destreza, natação, etc.) das 16.21 h às 18.47 h.
O jantar é servido às 19.16 h e termina às 19.20 h. Das 20.09 h às 21.59 h chega a altura das leituras sinfónicas em voz alta.
Deito-me regularmente às 22.37 h. Hebdomanariamente (às terças), um despertar em sobressalto às 3.19 h.
Só como alimentos brancos: ovos, açúcar, ossos ralados; gordura de animais mortos; vitela, sal, nozes de coco, frango cozido em vinho branco; bolor de fruta, arroz, nabos; rolinhos de naftalina, massas, queijo (branco), salada de algodão e certos peixes (sem a pele).
O vinho, mando-o ferver e bebo-o frio com sumo de fúchsia. Tenho apetite; mas enquanto como não falo, com medo de me engasgar.
Respiro com cuidado (pouco de cada vez). Muito raramente danço. Quando me desloco, apoio-me numa camisa de onze varas e olho fixamente para trás.
Quando rio, o meu ar muito sério não é de propósito; peço sempre, com ar afável, que mo desculpem.
Só durmo com um olho; e tenho um sono muito duro numa cama que uso redonda, com um buraco para enfiar a cabeça. De hora a hora, um criado tira-me a temperatura e dá-me outra.
Sou, desde há muito, assinante de um jornal de modas. Uso boné branco, meias brancas, colete branco.
O meu médico disse-me sempre para eu fumar. E a tal conselho, acrescenta:
- O meu amigo fume; se não o fizer, outro fumará por si.
(erik satie, memória de um amnésico)
Os meus actos diários têm este rigoroso horário:
Levantar: às 7.18 h; inspirado: das 10.23 h às 11.47 h. Começo a almoçar às 12.11 h e saio da mesa às 12.14 h.
Saudável passeio a cavalo no fundo do meu parque: das 13.19 h às 14.53 h. Outra inspiração das 15.12 h às 16.07h.
Ocupações várias (esgrima, reflexões, imobilidade, visitas, contemplação, destreza, natação, etc.) das 16.21 h às 18.47 h.
O jantar é servido às 19.16 h e termina às 19.20 h. Das 20.09 h às 21.59 h chega a altura das leituras sinfónicas em voz alta.
Deito-me regularmente às 22.37 h. Hebdomanariamente (às terças), um despertar em sobressalto às 3.19 h.
Só como alimentos brancos: ovos, açúcar, ossos ralados; gordura de animais mortos; vitela, sal, nozes de coco, frango cozido em vinho branco; bolor de fruta, arroz, nabos; rolinhos de naftalina, massas, queijo (branco), salada de algodão e certos peixes (sem a pele).
O vinho, mando-o ferver e bebo-o frio com sumo de fúchsia. Tenho apetite; mas enquanto como não falo, com medo de me engasgar.
Respiro com cuidado (pouco de cada vez). Muito raramente danço. Quando me desloco, apoio-me numa camisa de onze varas e olho fixamente para trás.
Quando rio, o meu ar muito sério não é de propósito; peço sempre, com ar afável, que mo desculpem.
Só durmo com um olho; e tenho um sono muito duro numa cama que uso redonda, com um buraco para enfiar a cabeça. De hora a hora, um criado tira-me a temperatura e dá-me outra.
Sou, desde há muito, assinante de um jornal de modas. Uso boné branco, meias brancas, colete branco.
O meu médico disse-me sempre para eu fumar. E a tal conselho, acrescenta:
- O meu amigo fume; se não o fizer, outro fumará por si.
(erik satie, memória de um amnésico)
quarta-feira, dezembro 15, 2004
territórios da (in)visibilidade (# 01)
(aeroporto francisco sá carneiro, 2004)
---------------------------------------------------------------------------------
A fotografia é realidade?
(realidade, s. f. qualidade do que é real; o que existe de facto; objectividade; certeza.
real (lat. reale - res, coisa), adj. que tem de facto existência; que não é imaginário; verdadeiro; efectivo; por oposição a pessoal, diz-se do que é relativo às coisas e não às pessoas; por oposição a nominal, diz-se quando se considera as próprias coisas e não os termos que as exprimem;)
segunda-feira, dezembro 13, 2004
pelos olhos passeiam imagens (# 02)
sexta-feira, dezembro 10, 2004
evocação de uma árvore
O'Neill
quinta-feira, dezembro 09, 2004
vou-me embora pra pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(manuel bandeira)
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(manuel bandeira)
terça-feira, dezembro 07, 2004
do espiritual na arte (# 03)
(amsterdão, 2004)
“É certo que as obras de arte encerram segredos, suscitam perguntas, não se afligem com contradições.
Assim, quando nos tocam, dizem-nos tanto sobre o seu mistério como nos colocam, queiramos ou não, perante as nossas próprias angústias. Numa palavra abalam-nos.”
(maria joão madeira)
“(...) a obra de arte não mantém um monólogo supremo, mas, sim, um diálogo invencível.”
(andré malraux / as vozes do silêncio)
(amsterdão, 2004)
domingo, dezembro 05, 2004
cumplicidades
os jogadores de râguebi / henri rousseau / 1908
...............................................................................
O que fica do correr dos dias é esta pura alegria: as gotas de água a gargalhar-te rosto abaixo, os abraços apertados dos amigos, as portas sempre abertas para entrares, a mão que na viagem te protege do frio.
sexta-feira, dezembro 03, 2004
quarta-feira, dezembro 01, 2004
pelos olhos passeiam imagens (# 01)
enquanto o meu corpo enregela numa aflição de náufrago (#01)
atiro setas à lua esperando
uma profusão cardíaca de acontecimentos ou
uma ordem cósmica de dentro mas
deus é um monstruoso sádico
uma profusão cardíaca de acontecimentos ou
uma ordem cósmica de dentro mas
deus é um monstruoso sádico
Subscrever:
Mensagens (Atom)