segunda-feira, fevereiro 28, 2005
still life # 02
the sleepers / bill viola
Tempo branco, tempo de nenhuma paixão.
Desce ao âmago desta cela debruça-te para o interior do meu vazio.
(Al Berto)
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
a maneira como olhava para as cousas*
O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL : IV HORAS MORTAS
O tecto fundo de oxigénio, d’ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vem lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me sangrentos.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta,
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastorais de uma flauta.
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhos! Que sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir estrangulados.
E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.
E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando, sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
Dos prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar.
Cesário Verde
(* Alberto Caeiro, sobre Cesário Verde)
O tecto fundo de oxigénio, d’ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vem lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me sangrentos.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta,
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastorais de uma flauta.
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhos! Que sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir estrangulados.
E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.
E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando, sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
Dos prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar.
Cesário Verde
(* Alberto Caeiro, sobre Cesário Verde)
terça-feira, fevereiro 22, 2005
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
terça-feira, fevereiro 15, 2005
ouvido interno (floating above the grass)
múm / álbum finally we are no one / green grass of tunnel
pura poesia, de arrepiar o pelo sob um antecipado sol de primavera
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
sábado, fevereiro 12, 2005
sob o olhar de medusa
laurie tumer / works on rock
é um processo de destruição – os fósseis redondos e baços das horas incrustados na carne morta dos dias, o tempo a devorar a alma.
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
dias com árvores
macieiras / 2005
embora se aguarde com expectativa a primeira folha continua o encantamento de habitar por momentos um delírio de D. Quixote
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
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