quarta-feira, agosto 31, 2005

botânica II

O silêncio das plantas

O conhecimento entre mim e vós

não se vai desenvolvendo mal de todo.

Sei o que é uma folha, um espinho, uma pinha, um caule,
o que convosco se passa em Abril, o que em Maio.

E embora a minha curiosidade não tenha o seu recíproco,
sobre algumas me debruço especialmente,
e para algumas de vós ergo a cabeça.

Há nomes vossos em mim:
o ácer, o lódão, a hepática,
dedaleira, zimbro, visgo, malmequer.

A nossa viagem é conjunta.
E é claro que durante as nossas viagens conjuntas se conversa,
uma troca de reparos que seja sobre o tempo,
sobre as estações velozmente ultrapassadas.

Temas não faltariam porque imensa coisa nos liga.
Aquela mesma estrela nos tem ao seu alcance.
Lançamos sombra sob idênticas leis.
tentamos saber algo, cada um à sua maneira,
e até no que ignoramos há semelhança.

Esclareço o que posso mas perguntem:
que é isso de ter olhos para olhar,
por que me bate o coração,
e por que não tenho o corpo com raízes.

Mas como dar resposta a perguntas por fazer,
se ainda por cima se é alguém
tão para vocês coisa nenhuma.

Prados e juncos, pinhais novos, epífitos –
tudo o que vos digo é um monólogo
e vocês não escutam.

A conversa convosco é necessária e impossível.
urgente na vida célere
e adiada para nunca.


wislawa szymborska

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