terça-feira, maio 22, 2007
quinta-feira, abril 26, 2007
mapa(s) do teu interior
Nada mudou.
O corpo faz doer,
tem que comer, que respirar e que dormir,
tem a pele fina e o sangue logo em baixo,
provisão farta de dentes e de unhas,
ossos que quebram, articulações que esticam.
Nas torturas tudo isto é tido em conta.
Nada mudou.
O corpo treme como tremeu
antes e após a fundação de Roma,
no século XX antes de Cristo e depois,
torturas há, como antes houve,
apenas a terra diminuiu,
e o que quer que se passe é como se passasse ali à esquina.
Nada mudou.
Há só mais gente.
às velhas culpas novas se juntaram,
reais, insinuadas, fugazes e nenhumas,
mas o grito com que o corpo lhes responde,
é, foi e será um grito de inocência,
numa escala e num registo eternos.
Nada mudou.
talvez só as maneiras, a dança, as cerimónias.
O gesto da mão protegendo a cabeça
permanece o mesmo todavia.
O corpo enrosca-se, arranha-se e arranca-se,
cai das pernas cortadas, encolhe os joelhos,
arroxeia, incha, baba-se e sangra.
Nada mudou.
Fora o curso do rio,
a linha das florestas, da costa, desertos e glaciares.
Entre paisagens assim se desfia a alma,
desaparece e volta, aproxima-se e parte,
estranha para si própria, inabarcável,
certa uma vez e logo incerta de existir,
enquanto o corpo está, está e está
e não tem lugar para onde ir.
torturas/wislawa szymborska
quarta-feira, março 14, 2007
sexta-feira, março 09, 2007
noivas com buraco negro em circulação temporária
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
tactear para ver no escuro V
2006
Não digo: isso foi ontem. Com insignificantes
trocos de Verão nos bolsos, estamos de novo deitados
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
E a nós não nos é dada, como aos pássaros,
a retirada para o sul. À noite passam por nós
traineiras e gôndolas, e por vezes
atinge-me um estilhaço de mármore impregnado de sonho,
onde a beleza me torna vulnerável, nos olhos.
Leio nos jornais muitas notícias - do frio
e suas consequências, de imprudentes e mortos,
de exilados, assassinos e miríades
de blocos de gelo, mas pouca coisa que me dê prazer.
E porque havia de dar? Ao pedinte que vem ao meio-dia
fecho-lhe a porta na cara, porque há paz
e podemos evitar essas cenas, mas não
o triste cair das folhas à chuva.
Vamos viajar! debaixo de ciprestes
ou de palmeiras ou nos laranjais, vamos
contemplar a preços reduzidos
inigualáveis pores-de-sol! Vamos esquecer
as cartas ao dia de ontem, não respondidas!
O tempo faz milagres. Mas se chegar quando não nos convém,
com o bater da culpa - não estamos em casa.
Na cave do coração, desperto, encontro-me de novo
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
ingeborg bachman / manobras de outono
terça-feira, fevereiro 20, 2007
domingo, fevereiro 11, 2007
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Aqui ninguém perde a cabeça por um braço *
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
domingo, janeiro 28, 2007
sexta-feira, janeiro 26, 2007
quinta-feira, janeiro 25, 2007
quarta-feira, janeiro 17, 2007
sob(re) a terra sobram-nos os ossos
segunda-feira, janeiro 15, 2007
o rumor do tempo na paisagem II
2004
Meses y días son perpetuos transeúntes, los años que se relevan son igualmente viajeros. Aquel que boga durante toda su vida (...) del viaje hace su hogar. Y yo mismo, desde hace no sé qué año, como jirón de nube que cede a la invitación del viento, no había cesado de albergar pensamientos vagabundos y había ido errante por las riberas marinas...
citação do poeta japonês Basho / una vuelta por mi cárcel / marguerite yourcenar
quarta-feira, janeiro 10, 2007
segunda-feira, janeiro 08, 2007
no espelho do céu
extraviada numa vhs emprestada/sem retorno reencontrada agora on line
10 minutos de magia do mexicano carlos salces
é só clicar
http://video.google.com/videoplay?docid=3126058786428859050&sourceid=searchfeed
(especialmente para ti)
domingo, janeiro 07, 2007
( )
dolls/takeshi kitano
homens cegos procuram a visão do amor
onde os dias ergueram esta parede
intransponível
caminham vergados no zumbido dos ventos
com os braços erguidos - cantam
a linha do horizonte é uma lâmina
corta os cabelos dos meteoros - corta
as faces dos homens que espreitam para o palco
nocturno das invisíveis cidades
escorre uma linfa prateada para o coração dos cegos
e o sono atormenta-os com os seus sonhos vazios
adormecem sempre
antes que a cinza dos olhos arda
e se disperse
no fundo do muito longe ouve-se
um lamento escuro
quando a alba se levanta de novo no horto
dos incêndios
prosseguem caminho
com a voz atada por uma corda de lírios
os cegos
são o corpo de um fogo lento - uma sarça
que se acende subitamente por dentro.
al berto / horto dos incêndios
quarta-feira, janeiro 03, 2007
Subscrever:
Mensagens (Atom)