uma parte da nossa existência reside nas almas de quem entra em contacto connosco: eis porque não é humana a experiência de quem viveu dias em que o homem foi uma coisa aos olhos do homem.
Primo Levi (*)
imagens da curta-metragem de Alain Resnais Noite e Nevoeiro, 1955
sessenta anos depois continuamos a construir uma história de atrocidades
O primeiro contacto é de expectativa. Vais entrar num outro elemento, desconheces ainda como actuar.
Mergulhas. Agora, o teu único elo com o mundo são os pulmões. Só eles não se submetem, exigindo ar, exigindo que continues viva da única forma que aprendeste. São ainda matéria exalando coágulos de ar que rebentam à superfície da água e que te obrigam a emergir uma e outra vez abrindo a garganta ao mundo. Os pulmões não têm memória - esqueceram a dor da primeira respiração. Assemelhas-te a uma medusa. Os teus braços e pernas, os músculos que te impulsionam, que estremecem de esforço quando expostos à terra e ao ar, já não são carne e não lhes sentes o peso esmagador. A dor da lei da gravidade cessou e a levitação não é mais um artifício mágico.
Mergulhas mais profundamente e o som do mundo é-te devolvido em ruídos desconexos. Sem ar todas as palavras se tornam indizíveis e é necessário aprender uma nova linguagem e assim transformas-te numa nadadora.
Deslizas, de olhos bem abertos, sentindo os halos de luz que chocam contra o teu corpo. A tua comunhão é total: a morte deve ser este esquecer da consciência dela própria, este respirar dentro de água novamente, um tempo uterino invertido. O desaparecimento é uma simetria ousada do início da vida, regrides ao estado de embrião e tornas-te água.
(fotografias: ken rosenthal / da série seen and not seen)
Estou a escrever-te do fim do mundo. Tens de sabê-lo. É vulgar as árvores estremecerem. Apanham-se as folhas. Com tantas nervuras que nem se imagina. Mas para quê? Já não têm nada a ver com a sua árvore, e por isso dispersamos, contrariadas. A vida na terra não poderia prosseguir sem vento? Ou tem tudo sempre, sempre que tremer? Também há movimentos subterrâneos, e em casa é como se viessem cóleras ter connosco, como se austeros seres viessem arrancar-nos confissões. Nada vemos, do que importa tão pouco ver-se. Nada, e no entanto trememos. Porquê?
quando o meu amor vem ter comigo é um pouco como música, um pouco mais como uma cor curvando-se (por exemplo laranja) contra o silêncio, ou a escuridão...
a vinda do meu amor emite um maravilhoso odor no meu pensamento,
devias ver quando a encontro como a minha menor pulsação se torna menos. E então toda a beleza dela é um torno
cujos quietos lábios me assassinam subitamente,
mas do meu cadáver a ferramenta o sorriso dela faz algo subitamente luminoso e preciso
pasárgada. avistada pela última vez entre as teclas delete e escape, evidenciando sinais de perturbação psíqui0)ae%824isy*hiuqew9c9n7t4wb+&hni8ho7miuc284yn0mj01=)(&&#$c9ue/\b84hc ´1’o’3u