sexta-feira, janeiro 14, 2005

jardim de inverno (# 02)

Estou a escrever-te do fim do mundo. Tens de sabê-lo. É vulgar as árvores estremecerem. Apanham-se as folhas. Com tantas nervuras que nem se imagina. Mas para quê? Já não têm nada a ver com a sua árvore, e por isso dispersamos, contrariadas.
A vida na terra não poderia prosseguir sem vento? Ou tem tudo sempre, sempre que tremer?
Também há movimentos subterrâneos, e em casa é como se viessem cóleras ter connosco, como se austeros seres viessem arrancar-nos confissões.
Nada vemos, do que importa tão pouco ver-se. Nada, e no entanto trememos. Porquê?

(henri michaux)

1 comentário:

zenith disse...

Gostei da meticulosidade e o conteudo do texto. Podemos nos manter isolados porem ainda tremer. Parece que ha uma energia que ampara a isto. Nao posso explicar o porque, mas sempre estamos envolvidos com a vida coletiva. Nao podemos esconder e nao sermos estremecidos: porque no fundo, teremos sensacoes tremulas.